Na noite do dia 6 de abril, a Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) realizou, em conjunto com o Instituto de Ciências Humanas (ICH) e o Instituto de Ciências Sociais (ICS) da PUC Minas, uma aula com Padre Júlio Lancellotti que mobilizou centenas de espectadores da comunidade acadêmica e externa.
Com o tema “Como fazer da cidade uma casa comum: alternativas e caminhos para enfrentar a pobreza”. A aula foi mediada pelos professores Mozahir Salomão, diretor do FCA; Carla Ferretti, diretora do ICH; Danny Zahreddine, diretor do ICS; e pelo reitor da PUC Minas, Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães.
Quem é Padre Julio?
Padre Julio Lancellotti é coordenador da pastoral de rua da Arquidiocese de São Paulo, e é conhecido por seu trabalho com moradores em situação de rua na capital paulista.
Crítico da desigualdade social e da ausência de políticas públicas, Padre Julio é, frequentemente, alvo de críticas que chegam a colocar em risco sua integridade física. Diante das ameaças, o Papa Francisco entrou em contato com Padre Julio, em outubro de 2020, para dizer que não desanimasse de seu trabalho, tão importante em defesa da vida e da igualdade.
Luta histórica por cidades mais inclusivas
Durante a aula, padre Júlio disse que, para que a cidade seja uma casa comum, deve haver uma luta histórica e contínua, pois, nas cidades, o jogo de interesses está muito presente. Segundo ele, quem governa os interesses econômicos das grandes cidades brasileiras é a especulação imobiliária, e o poderio econômico é determinante para o rumo da sociedade neoliberal, em um capitalismo que causa a desumanização da vida.
Padre Júlio também defendeu a diversidade e igualdade para minorias, como os moradores em situação de rua, negros, a população LGBTQIA+. Disse que deve haver inclusão na Igreja, na universidade, e nos demais espaços da sociedade, combatendo qualquer tipo de discriminação e preconceito.
“Nós temos que acolher a vida de maneira incondicional”.
Padre Julio Lancelotti
Caridade em tempos de pandemia
A luta pela vacinação em massa também foi debatida durante a aula, quando citados temas como a proteção social e a renda básica. Padre Julio deu exemplos de ações concretas a serem desenvolvidas, como o acesso à água potável para catadores e moradores de rua. Segundo ele, são esses “gestos concretos” que devem dar garantia de acesso ao essencial para as populações mais carentes, uma luta que, segundo ele, é “feita com eles, e não para eles”.
Simone de Beauvoir, Paulo Freire e Darcy Ribeiro foram alguns autores citados durante a aula. Padre Julio tratou da necessidade de criação de um espaço de reflexão nas universidades a partir do local social dos estudantes, e também criticou a “retórica do ódio”, a partir da obra “Guerra cultural e a retórica do ódio”, do professor João César de Castro Rocha.
O alerta quanto ao pensamento fundamentalista presente até mesmo nas universidades, que “desqualifica o pensamento dos oprimidos”, indicou a necessidade de buscarmos estudar, nos instrumentalizar e nos capacitar para essa luta contra a desigualdade social.
Padre Júlio também citou a perseguição religiosa e a “cristofobia”, dizendo que não se pode falar em perseguição religiosa quando falamos sobre a não abertura de templos religiosos cristãos durante a pandemia, e citou o exemplo de religiões de matriz africana, que são verdadeiramente vítimas de perseguição e intolerância. Ele também falou sobre o processo de humanização independente da religião, citando os ateus e os sem religião em contraponto a grupos cristãos que utilizam da religião para instrumentalizar e dominar outros grupos.
“Deus não está acima de tudo. Deus está no meio de nós”
Padre Julio Lancelotti
Indicação de leituras
Além de Beauvoir, Freire e Ribeiro, já citados, Padre Julio indicou leituras para os estudantes durante a aula. O primeiro livro, “Lá revolucion de Jesús, el proyecto del reino de Dios”, do teólogo Bernardo Pérez Andreo, ainda não foi traduzido para o português. Outra dica de livro é do biblista Alberto Maggi, “A loucura de Deus, o Cristo de João”. Este já com tradução para o português.
Figuras importantes para a Igreja foram citadas como exemplos de luta contra a desigualdade, como São Oscar Romero, Santa Irmã Dulce, Dom Hélder Câmara, Dom Paulo Evaristo, Margarida Alves, entre outros. Ao concluir sua fala, Padre Julio Lancelotti destacou: “Nossa luta é histórica, tem que ter indicadores claros, e nós temos que estar unidos na pluralidade, na luta, em conjunto com todos os grupos religiosos e não religiosos, sem ter medo de perder”.
50 anos FCA
A aula conjunta com Padre Julio Lancelotti é parte da programação dos 50 anos da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas.